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Está um daqueles dias que não apetece.
Aparentemente passa-se tudo "lá fora", no mundo. Chove a rodos. A água a cair do telhado do alpendre, o lado que não tem algeirós, faz estrondo de cascata. Está sombrio, o verde dos sobreiros empalideceu como numa fotografia sem cores. A temperatura ambiente do interior não dá conta de si, escondeu-se de mim para que não a sentisse. No silêncio da casa, ouve-se o tic-tac dos relógios baratos espalhados por cima de todos os móveis. Aparentemente o mundo está desanimado. Parece que desistiu de ser um mundo e que abandonou a pessoa que nele habita, eu.
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Se atentar ao facto de ter estado, ao longo deste ano, mais dias em Boston do que em Lisboa, isso mostra bem a vontade que tenho de sair do meu cantinho nas terras de Santarém. Não que não tenha vontade de sair, de vir ao encontro das pessoas que amo, de partilhar as suas vidas. O problema é ter uma personalidade do tipo da das árvores, que gostam de assentar raízes no solo, que não têm vontade nem capacidade para se deslocarem para outras geografias.
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Agora é que desatou a fazer frio a valer. Tem sido assim nos últimos dias: o sol começa a pôr-se, a temperatura cai a pique e torna-se impossível continuar no exterior. O interior está relativamente bem aquecido e, como não há muito a fazer, deixo-me ficar horas a fio ao computador a trabalhar no inventário das plantas. É trabalho que paga mal, mas que não é muito exigente. A cabeça fica meio disponível para pensar em paralelo noutras coisas e ao cabo de um ror de tempo dou com o acumulado dos frutos desse trabalho. A jeito de balanço, posso garantir que já consegui unificar os três sites, corrigir uma imensidão de erros, introduzir melhorias significativas, mas, mesmo assim, não me dá para ver peva ao fundo do túnel, como é hábito dizer-se. É um trabalho parecido como o de dispor os tarecos numa sala da casa. A simples entrada ou saída de uma peça de mobiliário força-nos a arrastar os outros todos para novas posições, de um lado para o outro, até restabelecemos uma nova harmonia. O processo não está garantido à partida. Embora algumas intuições dêem certo à primeira tentativa, requerem-se geralmente múltiplas e variadas iterações. O mesmo se dá para um quadro que se ponha na parede que logo vai embirrar com a arrumação dos que lá estavam. E é assim com muitas coisas, suponho que essa seja a lei universal que governa tudo o que há no mundo.
Ler mais: Estar dentro, sempre à espera de oportunidade para estar fora.
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Deu-me para isto: ir de vez em quando a Telheiras. E tudo começa porque, não indo a Maria à montanha, vai a montanha à Maria. Também há outras razões, como o aniversário com festa-surpresa da Sãozinha lá para os nortes de Mafra. E uma razão acrescentada que dá para diferentes combinações de montanha e de maria, que é poupar-se energia, que é cara, e o mau tempo requer consumo dela. Assim, consumindo juntos, cá nos aquecemos melhor poupando as energias para fins bem mais nobres e para alturas mais frias. Já não falo da chatice do regresso e da minha falta de gosto pela condução. Assim, vou ficando por cá, não em férias, não exilado, mas na condição de expatriado. Sou um expat.
Ler mais: Será Férias? Será Exílio? Exílio não é, certamente.
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Quanto à empatia de que agora tanto se fala nada sei. Andei a interrogar-me sobre o seu significado percebendo que a palavra nada tinha a ver com o “empathos” grego e fui dar, ao cabo de um extenuante exercício de elaboração mental, à presunção de que a dita palavra poderia ser a crase de “empada” com “tia”.