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in Os Monos
Todos sabemos, e até os seus próprios correlegionários, que, pela sua incontrolável estupidez, Bush abriu a caixa de Pandora, e que de lá saíram todos os males que arrasaram o mundo comprometendo até a própria sobrevivência deste. Embora tente recalcar esse pensamento, a humanidade tem a vaga ideia de que a sua Idade de Oiro acabou. Bush entregou a vitória direitinha a Obama e o mundo respirou de felicidade como se a crise tivesse acabado definitivamente. Toda a gente sabe que não, mas faz de conta. O difícil está para vir, faz lembrar a esperança depositada em Sócrates aqui no rectângulo, após o desastre de Santana Lopes. Com tudo minado, pouco a fazer e os WASP*s ressabiados, Barak vai ter dentro de meses manifestações nas ruas, possíveis atentados e o seu pretérito (a garganta funda de uma Monica Lewinsky negra ou umas trapalhadas com as suas habilitações literárias) passado a pente fino na imprensa.
Aqui o Governo faz-nos crer que fintámos a crise e que a sua proposta é a melhor do mundo. A Oposição diz que é o contrário: à esquerda , que é demasiado e muito pouco; à direita, que é muito pouco e demasiado.
O povo ilude-se. Os governos e os parlamentos não mandam nada. O poder está, à escala mundial, nas mãos das empresas e da imprensa que detêm o controlo do Estado, das forças armadas, das igrejas e dos meios de comunicação social.
A democracia faliu quando os cidadãos foram despejados e substituídos pelos contribuintes.
* WASP = White Anglo-Saxon Protestant.

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E dir-me-ão vocês: " O que tem a ver a bota com a perdigota?". É que o que eles não dizem não é para se repetir. Limito-me, portanto, a deixar aqui algumas fotografias tiradas recentemente.
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Estes são os meus seguidores...... seguem-me para onde quer que eu vá. |
E o dia despediu-se: |
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Não estive lá, quem esteve foi o mano que me trouxe um exemplar do belo livro, "objecto" cozinhado a partir do seu poetar por estas paragens. A festa de lançamento foi, segundo as testemunhas presenciais, notável. O livro, que comecei a ler em lume brando, é, para já, uma delícia.
Tenho uma mesa grande de exterior onde deixo os meus objectos de leitura e de escrita, telefones e máquina fotográfica. No intervalo das canseiras da lavoura pego no termo do café, abro uma página, leio aos goles pequeninos, observo a paisagem por entre o arvoredo, oiço o miar do Fofinho, que gosta de festinhas e de ouvir poesia, e sonho. Depois volto ao trabalho, compatibilizado com a vida.
Força Licínia, não pares.
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Conhecem os "meus" (não é possessivo, é apenas referencial) bichanos actuais. Temos uma família constituída pelos meus seguidores e a tia Laranjinha. Há que acrescentar-lhe o Black que parece ser de muitas famílias ao mesmo tempo e não tem paternidade confirmada em relação a nenhum dos menores, salvo a Farrusca em relação a quem pende uma paternidade putativa.
Pondo a coisa a claro, os meus seguidores são a mãe Ratita e os seus dois filhos, o Fofinho e a já mencionada Farrusca, também conhecida por a Bailarina.
Tem, cada um, características que lhe são exclusivas o que faz deles Pessoas. Assim mesmo: com um P grande. E as marcas a que me refiro não são físicas, são morais.
Comecemos pela Laranjinha. Deve o nome, que lhe pôs o Daniel, a uma minúscula mancha alaranjada no alto da cabeça. De resto é de cinzento tigrado, como a irmã Ratita e outra irmã sem nome nem marcas particulares, mais estreita e alongada que a Ratita, que aparece muito raramente. As três são filhas da mesma ninhada da Maria, há muito desaparecida, tal como o Bolinha e o Mião, os irmãos machos que foram fazer pela vida para outras paragens.
A Laranjinha é, de seu particular, uma excelente caçadora, gata vadia, ladra atrevida e rufia. De pequena vinha comer com os seus irmãos da comida de lata que lhes punha nos pratos. E ficavam por ali no repasto sob o olhar vigilante da Maria - sempre com um olho nos perigos distantes e o outro posto em mim - tão próximos que me permitiam uma, quando muito duas festinhas nos pelos sedosos. Não a Laranjinha, que me mostrava os dentes e arredava. Numa das minhas infelizes abordagens àquela pequena fêmea, tão arisca e tão cheia de personalidade, deitou as gadanhas à mão que a tentava acariciar e puxou como quem esventra um coelho. Tendo a mão ensanguentada e ferrada, dei-lhe um piparote com a outra disponível e projectei a gata à distância de umas duas ou três passadas largas. Daí para cá olhamo-nos com desconfiança e distanciamento.
As gatas engravidam ao mesmo tempo e permanecem próximas com as suas ninhadas para se auxiliarem mutuamente. Não misturam as crias no mesmo ninho mas ficam por perto umas das outras. Quando há movimentações, e todos os dias é preciso ir à caça para satisfazer doze pequenas bocas, revezam-se nas funções de caça e de guarda. Juntam as ninhadas no sítio com maior protecção e, enquanto uma as protege, muitas vezes auxiliada por um pai que sabe quando há-de aparecer, a outra sai para uma incursão venatória. As refeições são diversificadas: na maior parte, a dieta é coelho. O desgraçado é aberto e despido da sua manta de pelo, são-lhe abertos alguns orifícios nos locais apropriados, e vai sendo esvaziado, primeiro do sangue, depois da gordura, das vísceras e, finalmente, da massa muscular já cozinhada pela exposição ao ar livre durante dois a três dias. As variantes são os melros, outras aves, cobras e lagartos. Nas fase de transição entre a aleitação e uma maior mobilidade dos gatinhos, o sítio fica um chavascal pejado de ossos, penas, pelos, escamas. Ratos e ratazanas já há muito que os deixei de ver. O que vejo, sim, é as gatas sempre de atalaia ao pé da fossa.
À medida que crescem, as crias vão diminuindo em número, geralmente de seis para duas, para cada gata. Não ficam vestígios no local, é para mim um mistério ainda por desvendar. As gatas não parecem muito incomodadas com o desaparecimento. Mas, no final de fase, tornam-se mães galinhas e andam sempre com o coração aos pulos em cima dos dois meninos jesuses restantes.
Das duas, a Laranjinha é a caçadora mais eficaz, assim como a Ratita se especializou na maternage. Enquanto a Laranjinha faz a sua sortida, a Ratita junta os quatro ou cinco sobreviventes no espaço entre o contentor e a sebe e fica por ali a espreitar, nunca se deixando adormecer. Se estou por ali, conversamos os dois, mas fico sempre do lado do anexo e ela do lado do contentor. De vez em quando aparece a Laranjinha com um coelho com o dobro do seu tamanho na boca. Sempre em corrida, surge vinda dos lados da horta, passa em corrida entre a irmã e a sebe e manda com o coelho contra o contentor, desaparecendo velozmente na direcção do terreno do meu vizinho Paulo. Não é dizer que a Ratita não seja boa caçadora. Estou só a afirmar que a Laranjinha é uma caçadora olímpica.
Quando dou comida de lata aos petizes, elas autorizam-me que eu passe as tigelas pela sebe e dispõe-se uma de cada lado a proteger cada entrada do túnel formado com o contentor. Têm uma organização tipicamente militar que, muito inteligentemente, dá prioridade à segurança e à diminuição do risco. E enquanto aquele pessoal não cresce a confiança dada aos amigos bípedes é parcial e condicional.
Quando estão todos à mesa do banquete que lhes proporciono uma vez por dia (para não se desabituarem de caçar), o pessoal, maior e menor, anda por ali à vontade e eu misturado no meio deles, às vezes com vontade de dar uma trinca nos pedaços de coelho com bom aspecto misturados com ervilhas e cenouras estufadas cortadas aos pedacinhos. A Laranjinha não se mistura. Fica por perto com um olho em mim, outro nas tigelas e nos comensais. Inesperadamente, lança-se em jacto sobre uma das tigelas que tem uma folga para mais uma cabeça, arranca três ou quatro pedaços de carne e vai comer para longe. Só sabe caçar e roubar.
[A fotografia é uma das raras em que aparece a Laranjinha. Quando lhe aponto a máquina e disparo, só fica registado o rabo. Nesta, tirada em 30 de Outubro do ano passado, ainda era jovem. É a que está a comer: vê-se bem a manchinha laranja entre as orelhas]
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Eram vários de riscados e matizes diversos. Ele tinha um ar enfezado. Tenho uma vaga ideia (em geral, só tenho vagas ideias) que "enfezado" significa reles, pequenitotes. Mas olhando de repente para a palavra (porque as palavras vêem-se melhor quando se olha que quando se escuta) entrevejo a etimologia a rachar a palavra ao meio e concordo: ele era realmente um "merdas", um gato sem expressão nem notoriedade.
Pus-lhe o nome de Ratito. Cresceu humilde e submisso à sombra do irmão Laranjinha. Só lhes distingui o sexo quando apareceram ambas pranhas com os mamilos parecendo ventosas alinhadas a apontar o chão.
Ocupou os vãos do contentor para abrigar a ninhada e a Laranjinha teve que ir parir longe. Teve os filhos com competência e apresentou-mos cheia de orgulho. Nunca os largou. De dia, escondia-os na rotunda dos cedros onde podiam apanhar sol sem serem surpreendidos. Trazia-os à hora das refeições e punha-os atrás da sebe de ligustos sabendo que lhes poria a ração a dois palmos das nariguetas. Provava primeiro e afastava-se, voltando apenas para rapar as sobras. Aleitou até tarde.
Brincava muito com eles. Ainda brinca com o Fofinho e a Farrusca. Estes são grandes, anafados, confiantes e espertos a contrastar com os primos que têm metade do seu tamanho, são tímidos e pouco devem à esperteza.
Comparando as duas gatas vem-me à memória as experiências de Harlow (1958) em macacos rhesus com a mãe de pelo e a mãe de arame. É que, para desenvolver adultos saudáveis, o importante não é alimentar mas dar carinho e conforto.
The Nature of Love, Harry F. Harlow, 1958, First published in American Psychologist, 13, 673-685.