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Depois da colossal asneirada de querer transplantar o tomilho para o jardim em frente da casa, que deu em retumbante insucesso com a morte do frondoso arbusto, lá me apareceu um novo rebento, o que me diz que a coisa não está morta de todo. Tomilho limonado tenho lá disso aos montes. Tomilho ao montes, a rimar com alecrim aos montes, alfazema aos montes, sálvia e outras ervas aromáticas, tudo aos montes. Tomilho é que, enfim! ...
Termos de pesquisa no Portal:
Tomilho-vulgar, Tomilho-citronado
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in O Tremontelo
- Que susto! Que grande animal és. Assustaste-me com tamanha sombra…
- Ah! Eu sou um bípede chamado humano. Sou um homem.
- Muito prazer, eu sou a Dama do Lago.
- Ah ah ah! Mangas comigo?
- Ai! És sempre assim, grosseirão e insensível com as senhoras? Primeiro, apareces sem te apresentares, com esses modos pouco galantes. Depois, zombas do que te digo, deixando no ar uma vaga sugestão de dúvida. Como se a minha palavra para ti de nada valesse…
- As minhas desculpas, nobre senhora. Se apareci assim, sem me anunciar, é porque cuidava estar sozinho. Sorte foi não ter libertado aqueles humaníssimos sons corporais, muitas vezes acompanhados de cheiros detestáveis e severamente reprovados pelos sócios humanos.
- Penso que sei do que estás a falar; os gatos fazem muito essas coisas quando se debruçam no lago para se dessedentarem. Isso não é nada que me impressione.
- É claro que és uma dama. Permita-me, Vossa Senhoria, que lhe tire o chapéu e lhe renda as minhas homenagens. Agora, do lago … com franqueza! Convenhamos que é demais.
- Não tem nada de mais. Nasci aqui no lago e aqui estou desde que o mundo é mundo.
- Ai, essa é que não: perdoa-me, mas eu fiz o lago só há 3 anos e tu apareceste por cá há uns dois meses vinda eu sei lá de onde.
- Mas o lago não está cá sempre? - Perguntou a chorar – E eu não nasci aqui?
- Não – disse baixinho, incomodado como fico sempre na presença de choros femininos – O lago não está aí sempre. E eu julgava que tivesses aparecido por aí aos saltinhos vinda de outro sítio qualquer. Se calhar és a única sobrevivente daqueles “peixes-cabeçudos” que trouxe numa garrafa da terra do Zé Paulo. Sei lá. Do nada não nasceste tu, com certeza.
- Pensava que eu e o lago fazíamos um. Afinal, sou apenas uma passageira mais de um barco que não vai para lado nenhum. Estou chocada e profundamente triste.
- Não vale a pena, duquesa, afinal todos nós viajamos à boleia numa nave perdida no nada, onde entramos e de onde saímos sem ninguém a perguntar-nos qual é a nossa vontade.
- Triste natureza a nossa, destino cruel, vida desprovida de qualquer valia – proferiu em tom declamatório.
- Hum! Olha que a vida são dois dias e já lá vão três – Disse para a confortar, usando a estafada pilhéria dos meus tempos de escola e pensando para com os meus botões “não só não vai perceber a graça, como a vai confundir”.
- Grande aritmética, sim senhor – interpelou a cobra branca, que entretanto aparecera por ali – Eu só tinha um dedo quando aprendi a contar.
- Ah! És tu, salsicha rastejante? Vens aqui para me examinar?
- Não, mas não podia deixar de te ouvir. Não imaginas como me maravilha esse teu jeito para entreter as senhoras com cantigas da treta, sabendo que é a melodia da tua voz que as encanta.
- Cada um tem os seus encantos. Não te vejo muitas vezes a fixar os olhos no meu olhar para me aturdir? E porque te enovelas em sucessivos anéis, sabendo o poder sensual que as tuas curvas exercem numa alma sensível e desamparada?
- Deixa-te de habilidades e de conversas de serão de aldeia. Comigo não pega. Vira-te antes para aquela, que tem a mania que é nobre e dona da choldra de lago que fizeste. - E, dizendo isto, virou-me as costas, e pôs-se a andar dali para fora.
Foi então que, reparando na rã, me apaixonei por aquelas perninhas curtas e gorduchas. Que saudades tenho naqueles dias em que me ausento e passo a contar os que faltam pelos dedos.
Quando lá estou, a apanhar mato, a regar ou a podar rosas, ouço-a a coaxar. Parece que se esganiça toda para se fazer ouvir. Quando é noite sinto-me a abafar e abro as portadas para vir ao alpendre apanhar ar. Pressentindo a minha presença, a minha dama emite gritos lancinantes que se perdem na noite entre as estrelas.
E eu sei que não estou só num universo vazio.
E que a vida não é uma viagem à toa no meio do nada.
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A hipocrisia é tanta!
I. Não matarás (comentário: usa camisinha)
II. A estrada deve ser um instrumento de comunhão, não de danos mortais (comentário: a cama também)
III. Cortesia, correcção e prudência ajudar-te-ão (comentário: isto é só para entendidos em direito canónico, pois refere-se às Cortes, às casas de correcção e a jurisprudência. De outra maneira não se entende)
IV. Sê caridoso e ajuda o próximo em necessidade (comentário: só falta dizer "dá-lhe uma mãozinha")
V. O automóvel não seja para ti expressão de poder (comentário: usa antes uma arma de fogo)
VI. Convence os jovens a não conduzirem quando não estão em condições de o fazer (comentário: claro, só depois do casamento!)
VII. Apoia as famílias das vítimas dos acidentes (comentário: ajuda a pagar a missinha do sétimo dia)
VIII. Procura conciliar a vítima e o automobilista agressor, para que possam viver a experiência libertadora do perdão (comentário: lembra, portanto, ao agressor que tem que perdoar a vítima)
IX. Na estrada, tutela a parte mais fraca (comentário: é isso mesmo, põe a camisinha)
X. Sente-te responsável pelos outros (comentário: vigia o comportamento dos teus vizinhos e denuncia-os se se portarem mal)
E não se preocupam os vaginofóbicos com a guerra, a fome, as doenças, o desalojamento, as catástrofes naturais e todos os cavaleiros do apocalipse do capitalismo global. Nem conseguem viver a experiência libertadora da aceitação da culpa pelas crianças vítimas da lubricidade dos padres americanos, pelos dois mil anos de aviltamento das mulheres, pelas cruzadas e pelos crimes infames contra a humanidade cometidos pelas igrejas cristãs.
O "decálogo dos condutores"? Que parolismo paroquiano!
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Quem seguiu com alguma atenção os espécimes plantados nos canteiros deste hortículo blog, por certo topou que há cerca de oito anos descobri um pequeno canto no mundo, completamente desprezado e com ar miserando, que decidi pôr sob a minha protecção e cuidados. Como acontece em todas as histórias de amor, o sedutor virou seduzido.
Hoje, esse terreno tem uma vida própria, já não depende da minha vida. Pelo contrário, a minha vida depende dele.
Sendo um recanto de isolamento, é um recanto de encontros. Tenho lá amigos muitos; ele são gatos, melros, lagartos, cartaxos, cucos, picapaus, cobras, saca-rabos, ouriços, coelhos, perdizes, uma rã, muitos peixinhos e, recentemente, uma poupa. Tudo selvagem, nada de capoeira. Gatos, então, são uma sucessão de figurões com personalidade vincada, com quem tenho conversas apaixonadas, principalmente com o Tigre, um estudioso dos bípedes humanos, muito interessado em conhecer, e sobretudo em compreender, quer a linguagem falada, quer a mente humana e os seus construtos.
Quando regresso à grande cidade vejo os meus concidadãos com outro olhar; melhor, com um olhar outro. Ideologias, mitos, estereótipos, hábitos, condicionamentos, é tudo peneirado no crivo da crítica felina. Seria "cínica", se a atitude crítica fosse canina; chamei-lhe ailúrica, termo que cunhei com base em "ailuros" que, em grego, significa "gato" (ver o post "A companheira"). Tornei-me, portante, um filósofo ailúrico, um amante da sabedoria que a pretende encontrar através dos olhar de um gato.
Esta é a magia do meu cantinho; ou parte dela.
Tem um pequeno montado de sobro, que cuido afincadamente para o livrar da roseira brava, silvas ou vinha. Resultado do labor, há esparsos recantos de jardim e de horta. Tudo biológico. Começa a aparecer, numa excrescência de terreno, um pequeno pinhal em torno do único pinheiro inicialmente existente. Aí perto um pequeno lago com 60 metros quadrados de superfície e a profundidade máxima de um metro onde se desenvolvem nenúfares e caniço do Tejo. É o lar da rã e dos peixes. Estes descendem de um triplo casal adquirido no Horto do Campo Grande, que aí encontraram paz de espírito e alimento para ocupar os tempos vagos em loucas folias amorosas e ocupar cada palmo da água esverdeada com uma mão cheia de descendentes. Não lhes disse "crescei e multiplicai-vos", eles é que entenderam fazer o que mais lhe aprouve. E pelos vistos fizeram-no bem. Um caminho de terra batida serpenteia o interior do terreno: à sombra do arvoredo devém um passeio romântico; no meio do descampado, a "estrada", interrompida a meio com a rotunda de cedros; o conjunto, uma pista de atletismo, mais idealizada que concretizada. Recentemente, o meu filho cadete, que vai fazer quinze anos, acrescentou-lhe uma pista de "dirt jumping", com obstáculos para pôr à prova a resistência da "byke", do seu físico e dos meus nervos.
Depois dos verdes, do lago e dos caminhos, há as propriamente ditas construções. Desde o início, uma pequena casade 18 metros quadrados, que foi de apoio à agricultura e que agora converti no meu "escritório", uma habitáculo com ferramentas, onde me dedico às actividades de carpinteiro, pedreiro, pintor, electricista, canalizador, etc. Os equipamentos e materiais maiores estão desarrumados no contentor, um gigante de aço corrompido pelo oxigénio e comprado ali para as bandas de Santa Apolónia. Este tem uma história interessante, mas isso são tostões para outro negócio. O furo foi feito há quatro anos e fornece a água para as regas. Finalmente a casa e os muros exteriores, para aí com três anos, que permitiram a fixação no lugar e uma espaçosa cozinha, onde treino as minhas recentemente descobertas perícias de chefe.
Não vou recontar em micro-ondas a história do tremontelo, o tal tomilho selvagem que deu o nome a este "site". Mas andando à cata de nome, veio-nos à ideia de que sítio do tremontelo era nome adequado à finalidade. "Tremontelo", não há que demonstrá-lo pois sobram razões para tal. "Sítio", para além de aparentado com o termo inglês "site", de ascendência francesa, e que se refere ao blog, é também a designação que os brasileiros dão às pequenas quintinhas mantidas no interior, em que os citadinos se refugiam sempre que podem. Evoca-me saudosamente a série da Globo do sítio do pica-pau amarelo, com a Tia Nastácia, a Narizinho, a Emília, Dona Benta Encerrabodes de Oliveira, o Pedrinho, o Visconde de Sabugosa, o Lobisomem, o Saci, a Mula sem cabeça, Boitatá, a Cuca, o Anjinho, o Rabicó e espero não me esquecer de ninguém.
Ficou pois de se chamar o Sítio do Tremontelo e havia então que mandar fazer azulejos. Há peripécias interessantes à volta deste assunto, mas isso são munições para outra guerra. Os azulejos apareceram e foram colocados, como ilustra a fotografia. Um pormenor interessante a destacar: a representação de pés de tomilho à esquerda do painel.
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Requiem æternam dona eis, Domine (Leva-os contigo, Senhor, e não os deixes voltar).
... Dura há 90 anos esta vergonha nacional
Requiem æternam dona eis, Domine (Leva-os para o teu regaço, Senhor, e não os deixes voltar).
... És pobre, Luso, e eles querem-te bronco
Requiem æternam dona eis, Domine (Leva-os contigo, Senhor, e permite-lhes o descanso que permitiste a Lázaro)
... Dobra o joelho , Luso, e arrasta-o pelo país fora
Requiem æternam dona eis, Domine (Leva-os contigo, Senhor, e não os deixes chegar à idade de Matusalem).
E leva também as pedras que agora amontoaram
E os corvos que se preparam para lá poisar
Leva-os para onde a azinheira sagrada da deusa antiga
Que retalharam para mil vezes a vender
com a cera acumulada
com a esmola espoliada
com a esperança vã da cura
et lux perpetua luceat eis ( E com eles leva a luz do sol às cambalhotas e as patranhas dos segredos).
Puseram a natureza em reboliço
Para assustar o pagode
Lançaram anátemas
Previram catástrofes
Ameaçaram segredos
Como se tu, Senhor, senil e impotente
Para amparar com as tuas mãos criadoras
Os tombados das torres gémeas
Incapaz de suster a força bruta dos tsunamis
e de calar o estrondo da bomba suicída
Como se tu, Senhor, roído pelo Alzheimer dos divinos
já incapaz de inventar uma cura para o cancro, a sida
e sabe-se lá o que mais há-de aparecer
na natureza posta em desordem
pelos ateus cínicos da mais-valia e dos dividendos
Te importasses com o materialismo da Rússia
O da outra (que o actual não tem importância, a Máfia foi sempre tua filha preferida)
Te importasses com um tiro desvairado numa sotaina branca
Ou precisasses de muita oração para acabares com os horrores da guerra
Leva-os senhor e deixa este pobre povo em paz
Se paz é possível
Que entre nós já temos que baste
Para nos fazer o escárnio da Europa e do Mundo
Requiem æternam dona eis, Domine
Dura há 90 anos esta vergonha nacional
Temos outras mais antigas para curar
As novas vergonhas são apenas ainda
Atuardas nos jornais de Sua Majestade Britânica
Exaudi orationem meam
Exaudi orationem meam
Exaudi orationem meam