Mal houvera entrado na idade adulta, a Humanidade pregou-me a partida e foi à Lua.
Nessa altura era-se adulto aos vinte e um - o que significava entrar na posse de todos os direitos cívicos, mas isso contava pouco num país e numa época em que os direitos estavam cerceados. Emancipado aos dezoito, já trabalhava havia uns anos. Agora, restava-me ir para a tropa e ser enviado para o mato algures no interior de África. A humanidade foi à Lua a preto e branco e os astronautas não puderam contactar as famílias por Skype ou FaceTime.
Nesse dia senti que perdera a virgindade: o mundo em que caminhávamos era mais vasto que o planeta, a Lua não era mais um disco prateado mas um lugar poeirento em que as pessoas a andar pareciam sapos bêbedos com mochilas às costas.
Foi nessa altura que deixei de andar com a cabeça na lua e se desfizeram uma data de convenções.
A primeira, as fantasias sobre a lua de mel. A Lua deixou de ser um lugar idílico para se marcar encontros amorosos. Isso, porém, não era totalmente verdade porque em frente à igreja, do outro lado da estrada de Benfica, havia uma pastelaria chamada Lua-de-Mel, onde me encontrava com a minha namorada e onde partilhávamos o gosto pela bica e o pastel de nata.
Depois, o sentido de pôr os pés na terra.