Durante a morna à hora da sesta

As coisas são, mas não existem; o homem existe, mas não é: projecta-se. As coisas são e não o sabem, e o ser das coisas só se revela na abertura, na exposição que é o existir humano. O existir humano cuida das coisas no seu ser, é o seu jardineiro. A essência do existir é o tempo. O tempo traz as coisas à presença do humano e fá-las perdurar na memória. A fala, bem como a escrita, introduz a narrativa nas existências e confere-lhes identidade. O idêntico pode afirmar vezes sem conta " eu sou aquele que sou" e cobrir a sua face com múltiplas máscaras, e descrever múltiplas facécias e experimentar todo o tipo de cenários e vestimentas. A História é uma rede de autobiografias, a Actualidade o seu palco. E a contínua representação retorna eternamente as coisas à sua essência.

Os quatro petizes cabriolam infantemente quando lhes disponho as papinhas. Agora já me espreitam a um, dois metros de distância, mascarados por detrás de um qualquer semi-obstáculo visual. Rabo escondido com gato de fora, ironizo. Chocalho ruidosamente as apetecidas pepitas no saco de papel plastificado. Antes, fugiam a sete pés os sete-vidas. Agora, já se vão pavlovianamente salivando e aproximando. São seis horas, ainda está frio e não parece que se vá cumprir a previsão de chuva dos metereologistas. Pode ser que me engane! Mas a possibilidade de um engano dá o colorido das nossas vidas e o poder de continuar a dar palpites.

 

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