Para me deixar maldisposto, rezingão e quezilento não há como os dias de natal. Digo dias, e não dia, porque a imoralidade já permitiu que a moléstia contaminasse os dias, se não as semanas, à volta dela.
Poderia armadilhar 4 ou 5 argumentos válidos e robustos contra o natal, mas a razão não é para aqui chamada, que tem o seu lugar noutras ocasiões e noutras paragens. Falo dos sentimentos de mal-estar que a quadra me provoca. As razões são impessoais, e portanto discutíveis. Os sentimentos não são e ai de quem ouse discutir os meus!
Os sentimentos provêm do acesso consciente às emoções, este tipo de comportamentos rudimentares gravados a escopro e martelo no nosso blackboard biológico muitos milhares de anos antes de andarmos a grafitar bisontes nas paredes das grutas. Ele é coisa que nos sai disparada muito antes do que vamos pensar quando houver tempo para isso. E fica aqui a ruminar, persistentemente, até putrescer gerando a má têmpera ou que se chama os maus fígados.
É essa a magia e o poder do natal: o de tornar-me azedo.
Quando isso acontece, escrevo. A escrita é um poderoso lenitivo. Também escrevo, noutras alturas, quando estou bovinamente feliz.
Assim, fiquei a acreditar que a escrita nasce do corpo, das entranhas, das emoções. E que só mais tarde vem à cabeça buscar materiais e ferramentas de produção.