Quanto à empatia de que agora tanto se fala nada sei. Andei a interrogar-me sobre o seu significado percebendo que a palavra nada tinha a ver com o “empathos” grego e fui dar, ao cabo de um extenuante exercício de elaboração mental, à presunção de que a dita palavra poderia ser a crase de “empada” com “tia”.
Quanto a empadas, há que distinguir as empadinhas dos empadões. Bem! É tudo questão de forma e tamanho, mas vai dar tudo ao mesmo: uma mistela empanada, embrulhada em massa de pão. São próximas do pastel, uma misturada de qualquer coisa com massa de pão, tal como o pastel de bacalhau, a que se dá a forma com duas colheres (de cozinha, claro). Perdi algum tempo a reflectir sobre a razão por que o pastel de nata é um pastel e cheguei à conclusão de que é antes uma empadinha sem tampa. Uma falsificação que não fica por aqui. É uma dupla falsificação porque a nata também não é nata. Há quem diga que é um pastel de nada. Mas não é tudo feito de nada?
Na empatia, que tem, como se viu, todas estas mixórdias pasteleiras, há também a questão das tias. Não se trata, claro, das irmãs ou cunhadas dos nossos pais. Ou das tias espanholas, termo que poderíamos traduzir por tipas ou gajas, o que seria uma foleirice inaceitável. As tias que cabem nesta conversa conheci algumas quando trabalhei na Lapa, um sítio chiquérrimo, em lojas que não são pastelarias mas onde há pastéis e uma intensa vida social, uma espécie de tabernas asseadas onde só se bebe chá e se fala muito partilhando os pequenos segredos da Sociedade com ésse maiúsculo. São, geralmente, classe média alta, católicas, meia idade, solteironas, bem conservadas de saúde e de aspecto, blasées (no sentido em que se interessam por tudo e por nada, menos por assuntos sérios), as suas frases saem com uma melodia inconfundível e as palavras têm aquele acento típico dito de Cascais, e têm imensos dotes pasteleiros.
Temos aqui os ingredientes para compreender o que é, na realidade, a empatia. Agora, misture-se tudo até se formar uma massa homogénea e vai ao forno em lume brando. Em forminhas ou num tabuleiro, é como se queira!
E é intemporal - li já tarde mas tanto faz.
Ainda bem que assim foi, o teres-te espantado, num mundo e num tempo monótonos em que a gente já quase não se espanta com nada. Quando muito, há sobressaltos, mas isso ainda é só no ninho de vespas do Face Book. Quanto ao queirosiano, sinto isso como um elogio. É de longe o meu autor preferido.
Tem tudo a ver com o pathos: a empatia, a simpatia, a antipatia. Isto é, sofrimento e passividade. Eu não gosto destas tretas, prefiro os sentimentos alegres e activos. Mas não é altura de falarmos de Espinosa.
Queres uma receita de pastel de nata? Compro-os todas as semanas às dúzias e congelo-os. Como todos os dias dois ao serão. Sim, congelados!
PS.: Teresa, estás registada (havia um problema com o teu registo que já resolvi). Doravante, só tens que te lembrar da password que usaste.
Espantada com este post! Ora, algo que nunca pensei vir ler aqui, uma descrição queirosiana!
Empatia (do grego Empátheia, paixão, segundo o priberan)
- Não me parece que não a tenhas, mas isso sou cá eu a pensar!
Ah! Não disseques o pastel de nata! É tão bom!
(isto de ter de se registar está-me a dificultar a vida...)
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